23 outubro 2009

Um bom começo...

Poucas horas antes de o seu nome ser anunciado como nova ministra da Educação, Isabel Alçada garantia à Rádio Renascença que não tinha recebido qualquer convite de José Sócrates para integrar o novo governo. Desta semi-Enid Blyton lusitana pouco se conhece no que respeita a eventuais competências minesteriais. Mas, após as declarações à RR, ficou-nos uma certeza: Isabel Alçada mente bem, com rapidez e sem rebuço. O que, já se sabe, é meio caminho andado para ser um bom ministro.

20 outubro 2009

Assim se vê a força do PC

O diálogo que se segue é mau demais para ser verdade. Mas é um excerto da entrevista da mais jovem deputada do PCP ao Correio da Manhã do passado domingo. Chama-se Rita Rato, tem 26 anos e, ao que dizem, é licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais. E o pior é que não é uma deputada qualquer: era a terceira da lista por Lisboa, logo abaixo de Jerónimo de Sousa e desse outro rapaz inteligente e nada carreirista que dá pelo nome de Bernardino Soares. Pelo estilo da mocinha não me admirava nada que acabasse como a Zita Seabra...
(...)
- Concorda com o modelo que está a ser seguido na China pelo PCC?
- Pessoalmente, não tenho que concordar nem discordar, não sou chinesa. Concordo com as linhas de desenvolvimento económico e social que o PCP traça para o nosso país. Nós não nos imiscuímos na vida interna dos outros partidos.
- Mas se falarmos de atropelos aos direitos humanos, e a China tem sido condenada, coloca-se essa não ingerência na vida dos outros partidos?
- Não sei que questão concreta dos direitos humanos...
- O facto de haver presos políticos.
- Não conheço essa realidade de uma forma que me permita afirmar alguma coisa.
- Mas isto é algo que costuma ser notícia nos jornais.
- De facto, não conheço a fundo essa situação de modo a dar uma opinião séria e fundamentada.
- No curso de Ciência Política e Relações Internacionais, não discutiu estas questões?
- Não, não abordámos isto.
- Como olha para os erros do passado cometidos por alguns partidos comunistas do Leste europeu?
- O PCP, depois do fim da URSS, fez um congresso extraordinário para analisar essa questão. Apesar dos erros cometidos, não se pode abafar os avanços económicos, sociais, culturais, políticos, que existiram na URSS.
- Houve experiências traumáticas...
- A avaliação que fazemos é que os erros que foram cometidos não podem apagar a grandeza do que foi feito de bom.
- Como encara os campos de trabalhos forçados, denominados gulags, nos quais morreram milhares de pessoas?
- Não sou capaz de lhe responder porque, em concreto, nunca estudei nem li nada sobre isso.
- Mas foi bem documentado...
- Por isso mesmo, admito que possa ter acontecido essa experiência.
- Mas não sentiu curiosidade em descobrir mais?
- Sim, mas sinto necessidade de saber mais sobre tanta outra coisa...
(...)

16 outubro 2009

Joga pedra na Maitê?

Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado!
A incrível e triste história do vídeo de Maitê Proença é das coisas mais patetas (e mais patéticas) a que me tem sido dado assistir. Num país normal, num tempo normal, num mundo normal, nada disto seria mais do que um episódio irrelevante: uma artista de novela que um dia decidiu fazer uma piada com um lugar que visitou. É uma coisa que faz qualquer um que tenha estado noutro país sem ser o seu. No caso em análise, o resultado foi uma piada sem grande graça, nada que não se faça por cá todos os dias. Herman José já fez muito pior, e também com portugueses (o Estebes é um estereótipo do "murcon" do Norte, tal como a Maximiana ilustra o lugar comum da camponesa boçal), mas nem por isso foi crucificado na praça pública, ao contrário do que está a acontecer com a actriz. E ainda muito recentemente a Televisão pública era palco da alarvidade do Tele-Rural, com um monte de ideias preconceituosas sobre o Portugal-atrasado-do-interior que desfilavam semanalmente no cenário de Curral de Moinas. Mas contra esses não vi qualquer exaltação. E ainda bem, porque a liberdade de expressão não serve apenas para aqueles que têm muita graça - além de que o humor é como o amor: cada qual deve poder praticá-lo como quiser, e ninguém tem nada com isso.
Então, porquê tanto barulho em volta da piada falhada de Maitê? Provavelmente porque ela é brasileira, é bonita e tem sucesso. A verdade, meus caros, é que em muitos aspectos continuamos a ser um país pacóvio e ultramontano - e a histeria colectiva gerada em volta deste episódio (que até teve direito a notíca de destaque nos telejornais, valha-me São Pancrácio!) é a prova mais eloquente disso mesmo. Mais: olhando para boa parte das reacções à piada tosca de Maitê, verifica-se que a indignação (que até poderia ser justa e era, pelo menos, legítima) deu lugar, não raras vezes, à mais torpe xenofobia e ao mais execrável machismo. E de repente deixou de ser Maitê Proença o busílis da questão, eram «os brasileiros» que estavam a ser julgados - e por um crime que nem sequer existiu. E isso, meus amigos, é que não tem mesmo graça nenhuma.

PS -  Não tão a despropósito como parece, a fúria anti-brasileira gerada por este episódio ridículo trouxe-me à memória outros «julgamentos colectivos», como por exemplo este, acontecido em Lisboa há mais de 400 anos. Tal como desta vez, tudo começou por um simples comentário - no caso, bem mais inocente e sério do que as graças de Maitê. Deu no que deu. Por mim, não gostaria que no meu país voltasse a acontecer nada parecido. Nem mesmo apenas por palavras.