07 maio 2008

Os bois pelo nome

Em Lisboa, numa conferência sobre "desenvolvimento sustentável" promovida pelo BES e pelo Expresso, Bob Geldof reafirmou aquilo que toda a gente sabe, mas poucos se atrevem a dizer em voz alta: que Angola é um país com um enorme potencial que não aproveita porque é "gerido por criminosos". O partido do poder angolano reagiu, o jornal do partido do poder chamou-lhe comediante, os amigos do partido e do poder acusam-no de "não conhecer a realidade angolana". Até boa parte da "oposição" angolana, na vaga esperança de se tornar o poder que se segue, veio "repudiar" as afirmações de Geldof. E nem Barceló de Carvalho, Bonga, escapou à enxurrada de espontâneos defensores do regime cleptocrata vigente em Angola: talvez na esperança de, assim, aceder mais facilmente a umas migalhas do pão roubado diariamente aos angolanos, lá veio Bonga fazer coro com o poder que está e o poder que se segue e manifestar a sua "indignação", apelando à "repressão de qualquer tipo de atitude que vise manchar o país e o desempenho dos seus governantes"... E o BES, claro, ainda a conferência não tinha terminado e já fazia sair um comunicado demarcando-se das "declarações injuriosas" do músico. Confesso que nunca esperei viver o suficiente para ver um banco defender o MPLA! Mas Geldof conhece, e bem, o que se passa nessa Angola que, dizem, já foi "nossa" e agora é de José Eduardo dos Santos. Disse a verdade, de forma incómoda, directa e sem artifícios. Chamou os bois pelos nomes. E é isso que lhes dói.

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